Jhony Arai – Revista Zen – edição: 01
Parar tudo. Não pensar em nada. Sentar-se e respirar por 5 minutos diários podem melhorar (muito) a qualidade de vida.
A ciência comprova que quem pratica a meditação aumenta a auto-estima, a concentração e ainda previne as doenças causadas pelo estresse…
Quando escutamos a palavra meditação, não há como escapar da imagem de compenetrados monges de cabeças raspadas que passam horas sentados na difícil posição de flor-de-lótus para alcançar a iluminação. Dá até uma certa inveja desses seres superiores, anos-luz alheios às buzinas ensurdecedoras dos congestionamentos, à sufocante pressão no trabalho, às miudezas do cotidiano que tornam nossa mente um turbilhão desenfreado. Talvez por estar associada à religião, a meditação parecia uma prática distante da realidade de pobres mortais como nós. Você ouviu bem. Parecia cada vez mais, esta técnica oriental de 2,5 mil anos está deixando de ser exclusividade de inacessíveis mosteiros e se tornando uma poderosa aliada da melhoria da qualidade de vida dos estressados ocidentais, inclusive brasileiros.
A crescente adesão vem amparada pelo avanço das pesquisas da Medicina, que têm comprovado e até estimulado a prática da meditação para prevenir inúmeras doenças (veja quadro na página seguinte). “As chances de se contrair qualquer mal provocado por estresse são muito pequenas quando se medita”, afirma o médico-acupunturistas Norvan Martino Leite, da clínica Com-ciência, que criou uma sala de meditação para auxiliar no tratamento de seus pacientes. “A melhora no dia-a-dia é impressionante”, atesta a executiva Cristina Moreno, 54 anos, que pratica a meditação há pouco mais de 2 anos.
O mesmo serviço já existe há 2 anos no Hospital Público do Servidor Municipal de São Paulo, onde o atendimento é gratuito.
Quem medita disciplina a mente, melhora a auto-estima, a criatividade, a percepção, a concentração, controla a ansiedade e mantém o equilíbrio emocional.
Aprende a enxergar os problemas (ops, desafios) de forma (muito) mais simples.
Não é preciso ser monge, Meditar é tão fácil quanto aprender a andar de bicicleta
Ah! Com um detalhe importante: todos esses benefícios são de graça e sem contra-indicações. Soa até como propaganda enganosa mas não é. Para os iniciantes, o segredo é praticar 5 minutos todos os dias e incorporar o hábito como se fosse tão simples quanto escovar os dentes.
Que fique claro que não existe nenhum passe de mágica que o transformará em um ser humano resolvido e maravilhoso da noite para o dia. Como qualquer aprendizado, exige persistência, paciência e disciplina. Você se lembra de quando foi tentar andar de bicicleta pela primeira vez? Que tal aquela sensação do vento no rosto ao dar as primeiras pedaladas sem a ajuda daquelas rodinhas? Aprender a meditar é tão bom quanto essa sensação. É viver as delícias de estar presente, cada milésimo, cada instante , por mais tolo que possa parecer.
Poderíamos falar de Filosofia, História, Religião, Metafísica e ficar nesse papo-cabeça para convencê-lo a seguir em frente. Quem sabe em uma outra hora. O que precisava ser dito está aí. Agora é com você. Afinal, o melhor da meditação é meditar.
Como meditar em casa
Atualmente, existem mais de 3 mil técnicas de meditação. Aqui, você vai aprender o zazen, originalmente adotado pelos monges zen-budistas, mas que foi adaptado para os padrões ocidentais.
O ambiente é importante. Procure um lugar silencioso, limpo e com pouca luz.
- Sente-se sobre uma almofada deixe a coluna ereta, cruze as pernas. Una as palmas das mãos em forma de concha e deixe-as caídas sobre o colo.
- Esboce um leve sorriso para relaxar o rosto. Deixe os olhos semiabertos, mirando a 45 graus. Mas não se fixe a nenhuma imagem. O ideal é desfocar sua visão.
- Coloque a língua no céu da boca e incline o queixo levemente para a frente.
- Respire profundamente.
- Sinta a barriga cheia de ar e expire. Para evitar a dispersão da mente, conte de 1 a 10 e de 10 a 1.
- Para controlar o tempo, programe um despertador para tocar após 5 minutos.
- Quando acabar o tempo, desligue-o e fique na posição pelo tempo que desejar.
Dicas:
- Antes de ficar na posição de meditação, faça exercícios de alongamento.
- Importante é se sentir confortável. Para iniciantes, a posição de semilótus (a perna direita sobre a esquerda) é a mais recomendada. Mas nada impede de sentar-se na cadeira. Nesse caso, mantenha os pés sobre o chão, para formar um ângulo de 90 graus.
- Gradativamente, tente aumentar o tempo reservado à meditação até chegar aos 20 minutos.
- Se você se perder na contagem, recomece. Quando os pensamentos vierem, tente não se prender a eles.
- Deixe que eles passem como se fossem nuvens. Deixe fluir. Procure não criar expectativas sobre os resultados.
Os benefícios, segundo a Medicina comprovou:
- Segundo o Centro de Pesquisas Cerebrais de Moscou (Rússia), durante a meditação o corpo consome seis vezes menos oxigênio que quando se dorme. Isso significa que o corpo gasta menos energia.
- Estudo da Universidade da Califórnia (EUA) descobriu que a meditação contribui até para evitar o acúmulo de gorduras nas artérias.
- Pesquisas da Universidade de Massachusetts (EUA) mostram que a meditação controla a hipertensão arterial e problemas digestivos.
- Estudo canadense constata que, após 6 anos, os gastos de despesas com saúde entre as pessoas que praticam a meditação caíram 30%.
- Pesquisas de Universidade de Stanford (EUA) indicam que a meditação reduz a produção de adrenalina e cortisol, responsável pelo estresse.
- Pesquisadores da Universidade Pensilvânia (EUA) descobriram que a meditação aumenta a atividade da região frontal do cérebro, responsável pela concentração, abstração, responsabilidade social e atenção focada. São nesses momentos que surgem os insights (idéias que vêm da intuição).
- A meditação aumenta as ondas alfa e teta no cérebro, que transmitem a sensação de relaxamento.
O que é a iluminação?
O lampejo da iluminação pode levar algumas semanas, alguns meses, alguns anos – ou, na visão de algumas religiões, algumas vidas – até você começar a compreender o que se chama satori em japonês, wu-wei em chinês, samadhi em tibetano, d’vekut em hebraico e “conversão” na tradição cristã.
Os zen-budistas, especialistas na meditação por excelência, definem o fenômeno como um súbito realce espiritual, que provoca uma mudança radical de perspectiva. Centenas de histórias zens contam como os monges passam décadas praticando sem conseguir atingir o estado de satori, até que um dia tropeçam nele por acaso. Essas parábolas são interpretadas como uma prova de que você pode apenas se preparar para a mudança espiritual, mas não consegue controlá-la.
Alcançar o estado de graça é quase como ganhar na loteria – atenção: não uma bolada de 1 milhão de dólares, só uns 500 reais. As chances estão a seu favor. Daqui a alguns anos, você vai se lembrar de como foi repentino e natural. E vai se perguntar por que o acontecimento não foi mais emocionante ou dramático. Provavelmente você nem estava meditando. Se bobear, estava esperando o semáforo mudar, ou olhando pela janela enquanto falava ao telefone, ou lavando a louça depois de uma festa. Surge assim, sem avisar. Você não estava preparado para isso. Ninguém pode esperar o inesperado – ninguém está pronto de verdade para a iluminação.
Iluminação é apenas outro nome para aquele sentimento confortável de que você é uma pessoa absolutamente comum.
E então o comum passa a ser excepcional: uma poça de água, uma criança correndo atrás de um passarinho, um zumbido de seu computador, e você, no meio disso tudo, com uma auto-imagem sem verniz algum.
A charada terminou, e uma dor de cabeça existencial desapareceu. Você não é um ser perfeito – longe disso -, mas sua mente está clara. Quem sabe, pela primeira vez, está se sentindo lúcido, aberto, pronto para tudo.
* Trecho do livro A Arte de não fazer nada, da editora Publifolha.
Eles meditam
“Por 3 meses, ficava na posiçao de meditação, e nada acontecia. Minha cabeça continuava a funcionar a mil por hora. Além disso, ficava com dores nas pernas. Mas eu insistia porque sabia que, de alguma forma, aquilo me faria bem. Hoje percebo que tenho mais autocontrole nos momentos de maior estresse. Faço pequenas pausas no trabalho de uns 5 minutos para meditar. Isso ajuda muito a diminuir a ansiedade.” (Carlos Crepaldi, 53 anos, gerente comercial, pratica meditação há 3 anos).
“Era uma pessoa muito agitada. Não ficava 5 minutos parada. O começo da meditação foi muito difícil. Para os ocidentais, ficar imóvel parece perda de tempo. Por isso, persistência é fundamental. E eu sou muito persistente. Aos poucos, percebi que fiquei muito mais atenta no dia-a-dia. A percepção se tornou muito mais aguçada e isso é fundamental para o meu trabalho. Em uma reunião mais tensa, sei a hora de pisar mais os pés no acelerador ou não.” (Cristina Moreno, 54 anos, gerente de produtos, pratica meditação há 2 anos e 6 meses).
“Eu tinha gastrite e problemas de postura. Soube que a meditação poderia me ajudar a resolvê-los. Com o tempo, você percebe q eu esta pratica muda a sua vida. É fácil falar que o objetivo de todo mundo é ser feliz. O legal é que a meditação é um caminho para o autoconhecimento porque ajuda a gente a definir as nossas metas, nos dá maior clareza diante da vida. Enfim, acho que fiquei mais equilibrada.” (Daniela Salles, 29 anos, analista de marketing, pratica meditação há 1 ano)
E como a vida muda!
Confesso (sem nenhuma vergonha) que estava cético. Cheguei à sala de meditação carregado de preconceitos. Para mim, não fazia nenhum sentido ver as pessoas jogando fora os minutos preciosos da vida sentadas naquela estranha posição, em um aparente silêncio. Talvez até por isso não levava nenhuma expectativa do que estava preste a ocorrer. Se é que algo iria ocorrer. Com dificuldade e algumas dores no corpo, inevitável para quem leva uma vida sedentária, aprendi a posição de semilótus.
Primeiramente, ensinaram-me a respirar profundamente, depois a imaginar que estava expirando meus preconceitos e minha ansiedade. Com um certo desdém, segui as instruções.
À primeira vista, o silêncio incomoda e assusta, pois nos obriga a escutar conscientemente o que está dentro de nós. Tentei me concentrar na contagem dos números de 1 a 10 e de 10 a 1.
Quando percebi, já estava no número 33. Os pensamentos vinham e eu brigava com eles. “Não, não posso pensar em nada, mente vazia, mente vazia”, repetia para mim mesmo.
Desde então, já se passaram meses, hoje não brigo mais tanto com meus pensamentos. Deixo que eles passem. De repente, surge uma resposta para um assunto qualquer.
Continuo fazendo a contagem dos números porque isso me obriga a ficar atento não dá para falar exatamente o que mudou na minha vida, mas algo aconteceu. Para quem achava que nada mudaria, já é um avanço e tanto.
Tenho a impressão de que me lancei em uma correnteza de um imenso rio, cujo destino é desconhecido. Mas é bom não Ter mais medo de água.