Num dia muito frio, o Mestre foi com seu cocheiro a um aniversário. Depois de permanecer um pouco na sala, sentiu pena do cocheiro que aguardava do lado de fora. E foi até ele, dizendo:
– Vamos, homem. Vamos para dentro se aquecer.
– Não posso deixar meus cavalos sozinhos – respondeu o cocheiro, batendo os braços e as pernas para se aquecer.
Eu cuidarei deles até que se aqueça e volte a tomar seu lugar – disse o Mestre.
A princípio, o cocheiro recusou-se sequer a considerar tal hipótese. Mas, depois de um tempo, deixou-se persuadir pelo Mestre. E entrou na casa, onde comida e bebida eram oferecidas com fatura a todos, qualquer que fosse a sua posição social e independente de ser ou não conhecido do anfitrião. Depois do décimo copo, o cocheiro já esquecera completamente quem estava tomando seu lugar junto aos cavalos, e permaneceu na festa hora após hora.
Enquanto isso, os convidados começaram a dar pela falta do cocheiro, mas diziam a si mesmos que ele devia ter algo importante a fazer e que retornaria quando estivesse terminado. Muito tempo depois, no fim da festa, quando os primeiros convivas iam partindo e a noite já descia, encontraram o Mestre, em pé ao lado do cavalo, sacudindo os braços e batendo os pés para se aquecer.
07/04/2011