Dermatite da área da fralda – Clínica ComCiência
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Dermatite da área da fralda

A dermatite da área da fralda é provavelmente a afecção cutânea mais freqüente na primeira infância, constituindo fonte significativa de desconforto para a criança.

O uso da fralda ocasiona aumento da temperatura e da umidade locais. Há conseqüente maceração da pele, que se torna mais susceptível à irritação ocasionada pelo contato prolongado da urina e das fezes com a pele da região coberta pelas fraldas. Freqüentemente surge infecção secundária por Cândida ou por bactérias como Bacillos faecallis, Proteus, Pseudomonas, Staphylococcus e Streptococcus. O uso de pós, óleos, sabões e pomadas irritantes agravam o quadro clínico.

Prevenção e Cuidados

Em bebês com dermatite da área das fraldas irritativa primária, o mais importante é prevenir. A remoção da oclusão ainda é a melhor forma de prevenção e tratamento. Para isso, recomenda-se um conjunto de medidas que têm como objetivos principais manter essa área seca. Para tanto é necessário evitar irritação e maceração, limitar a mistura e dispersão de urina e fezes, reduzir seu contato com a pele, o que ajuda a preservar a função de barreira cutânea. Assim existem cinco aspectos fundamentais na prevenção da dermatite da área das fraldas:

Freqüência da troca de fraldas

Devem-se trocar as fraldas sujas de urina com freqüência, a fim de que a capacidade de absorção não seja superada, evitando contato da urina com a pele. As fraldas com fezes precisam ser trocadas imediatamente. Em recém-nascidos, a troca deve ser horária, e nas outras crianças com três a quatro horas de intervalo.

Capacidade de absorção das fraldas

Atualmente, a maioria das fraldas comercializadas contém material acrílico em gel superabsorvente, eficaz em manter a área da fralda seca e em meio ácido. Algumas fraldas mais modernas são compostas de substâncias capazes de seqüestrar líquido em até 80 vezes seu peso molecular, como é o caso do poliacrilato de sódio, que se transforma em gel (geleificação). Apesar dessas especificações, a fralda descartável determina efeito oclusivo maior do que o das fraldas de pano, não eliminando o contato pele/fezes. Por isso não se deve estimular os pais a manter a mesma fralda por períodos mais longos.

Fraldas descartáveis versus fraldas de pano

As fraldas descartáveis superabsorventes são as que possuem maior capacidade de manter seca a área da fralda. Estudos anteriores compararam fraldas descartáveis superabsorventes com fraldas de pano e demonstraram que as primeiras produzem significativamente menos eritema, e menor grau de dermatite. Não foram descritas ainda reações alérgicas ao material absorvente contido nas fraldas descartáveis. Mesmo com o avanço nas técnicas de fabricação das fraldas descartáveis, há alguns especialistas que dão preferência às fraldas de pano pela menor oclusão que elas provocam. Para diminuir o calor local, as fraldas devem ser menores e mais anatômicas.

Controle de infecções

A C. Albicans contamina, freqüentemente, a dermatite da área da fralda, sendo a principal complicação da doença. A infecção por essa levedura deve ser considerada, pesquisada e tratada em dermatites com mais de três dias de evolução.

Higiene diária e preparações que devem ser evitadas

A higiene da pele da área da fralda apenas com água morna e algodão, sem recorrer a sabonetes, é suficiente na limpeza diária da urina. Desse modo, é desnecessário lavar com sabão toda vez que a criança urinar, o que ocorre numerosas vezes ao dia, pois pode acarretar dermatite de contato pelo sabão. Para as fezes, sabonetes brandos são recomendados. O uso de lencinhos umedecidos pode ser útil somente em situações de locomoção. Deve-se sempre ter em mente que eles contêm sabões, e que, o contato continuado com a pele, pode lesar a barreira cutânea, provocando dermatite de contato. Seria adequado enxágue após o uso.

O uso rotineiro de preparações tópicas para prevenir dermatite da área das fraldas não é necessário para crianças com pele normal. Os aditivos dessas preparações têm o potencial de causar sensibilização de contato, irritação e/ou toxicidade percutânea.

Para evitar a umidade excessiva da área das fraldas, minimizar as perdas transepidérmicas de água e diminuir a permeabilidade da pele, utilizam-se cremes de barreira ou pastas mais espessas e aderentes, à base de óxido de zinco, dióxido de titânio e amido ou cremes com dexpantenol. Esses produtos podem ajudar a prevenir o contato das fezes com a pele já danificada, pois aderem à epiderme. Não são facilmente removidos com água, mas sim com óleos e não devem ser retirados a cada muda de fralda para não irritar a pele. Sua utilização pode ser dispensada se as medidas de higiene e troca forem executadas com freqüência. Realmente, não se sabe se os aditivos presentes em alguns desses cremes de barreira (por exemplo, vitaminas) melhoram sua qualidade. Além disso, alguns aditivos, conservantes e aromatizantes presentes nos cremes protetores podem ter efeito de oclusão, levando, indesejavelmente, à dermatite da área das fraldas.

Algumas preparações devem ser evitadas: as que contêm ácido bórico pelos riscos de toxicidade, além de causar diarréia e eritrodermia; tratamentos caseiros, com clara de ovo e leite, por seu poder alergênico; produtos com corantes de anilina que podem levar ao envenenamento e meta-hemoglobinemia; desinfetantes e amaciantes, principalmente os que contenham hexaclorofeno ou pentaclorofenol pelo risco de encefalopatia vacuolar e taquicardia com acidose metabólica, respectivamente.

Tratamento

Para dermatite instalada de grau leve, o mais importante consiste no aumento da frequência de trocas e na utilização de fraldas superabsorventes (nem todas as marcas o são). É recomendável, na limpeza da área da fralda, primeiro usar algodão embebido em óleo (mineral ou vegetal), para remover o óxido de zinco e resíduos de fezes aderidos à pele, e só depois proceder à lavagem com sabonetes pouco agressivos. Deve-se lavar em água corrente para melhor remoção de resíduos.

Se o eritema persistir por mais de 3 dias o médico deverá ser consultado.

FERNANDES, Juliana Dumet; MACHADO, Maria Cecília Rivitti; OLIVEIRA, Zilda Najjar Prado de. Fisiopatologia da dermatite da área das fraldas: parte I. An. Bras. Dermatol., Rio de Janeiro, v. 83, n. 6, dez. 2008.
FERNANDES, Juliana Dumet; MACHADO, Maria Cecília Rivitti; OLIVEIRA, Zilda Najjar Prado de. Quadro clínico e tratamento da dermatite da área das fraldas: parte II. An. Bras. Dermatol., Rio de Janeiro, v. 84, n. 1, fev. 2009.

Por Dra. Amanda Sabino